Jogando em família

O segredo dos jogos que agradam a todas as gerações

Sempre volto ao tema dos jogos de tabuleiro, não só por sua capacidade de nos distrairdivertir e por seus benefícios para o cérebro, mas também porque gosto. E com meus filhos crescendo vamos nos afastando aos poucos do jogo da memória ou bingo dos animais e experimentando títulos que, assim como as animações de cinema hoje em dia, agradam crianças e adultos.

Uma das fórmulas que os designer de jogos modernos usam para tanto é adotar mecânicas de jogos clássicos como base, incrementando suas criações a partir daí. Mecânicas são ações que os jogadores usam para dar andamento à partida. Rolagem de dados, controle de território, blefe, mímica e assim por diante. Exemplo: os famosos Ludo, Jogo do Ganso ou Cobras e Escadas usam a mecânica roll and move – rolam-se os dados e move-se o peão de acordo com o resultado.

Os títulos que conseguem manter essas mecânicas clássicas reconhecíveis e inserir complexidade ao jogo são candidatos a agradar a várias gerações, alcançando sucesso de público. É o que faz com maestria o designer francês Bruno Cathala, por exemplo. Mancala, dados, baralho, ele busca inspiração no passado para criar obras modernas de sucesso. Só para ficar num exemplo, seu jogo Kingdomino, lançado no Brasil pela Papergames em 2017, já vendeu mais de um milhão de exemplares no mundo.

kingdomino

Trata-se, como diz o nome, de um dominó, com a conhecida mecânica de colocação de peças formando um padrão. Mas em vez de números os dominós são ilustrados com diferentes tipos de terrenos: pântanos, campos, pastos, minas, mares, sendo que algumas peças têm o desenho de uma ou mais coroas. E em vez de criar uma trilha comum no centro da mesa cada jogador deve colocar os dominós em volta de seu próprio castelo, tentando construir reinos com grandes terrenos cheios de coroas, já que no final os pontos são calculados multiplicando-se o tamanho de cada terreno pelo número de coroas nele presentes.

É o que chamo de um excelente “jogo de entrada”. Isso porque o grande público brasileiro ainda associa jogos de tabuleiro ou a lojas de brinquedo infantis ou a bingo, buraco e truco. Títulos como Kingdomino, portanto, que associam sofisticação a mecânicas conhecidas e simples de entender, abrem a porta para o mundo de possibilidades dos jogos modernos e conseguem reunir várias gerações em volta da mesa. Algo fundamental em qualquer fase da vida.

Daniel Martins de Barros
DANIEL MARTINS DE BARROS

Psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq-HC), onde atua como coordenador médico do Núcleo de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (Nufor). Doutor em Ciências e bacharel em Filosofia, ambos pela Universidade de São Paulo (USP).

clube do tabuleiro
2021-12-15T10:01:32-03:0022/out/2020|Dicas|